Bhagavad Gita – Significado
Na Bhagavad Gita, o mais célebre texto sobre autoconhecimento (Yoga) da tradição milenar indiana, fala-se sobre vinte valores essenciais a quem pretende evoluir no plano espiritual, por quem se identifica com estar de bem com a vida, com o mundo e os com os outros
Bhagavad Gita significa “Sublime Canção” e é um tipo de Salmo da Mahabharata. Este texto narra de forma poética uma guerra em família que pretende governar a cidade de Hastinapura.
Há dois exércitos a duelar, os Pandavas(exército do bem) e os Kuravas(exército do mal). Tudo flui de forma como em qualquer duelo, até que Arjuna – arqueiro e príncipe dos Pandavas – é conduzido por seu próprio pedido até o centro da batalha pelo mestre Krishna para simplesmente ver melhor o seu inimigo. Essa visão é estonteante a ele, pois ele vê e se depara com sua própria família. Isso o deixa muito apavorado.
Ele faz uma série de perguntas a Krishna, pois ele quer saber de onde lhe virá forças para atacar e confrontar seus próprios parentes, pessoas que ele as conhece e tem um grau de afeição. Mas Krishna vai além, explica o sentido dessa batalha e faz com que Arjuna entenda que se trata de uma batalha interna, é uma luta em nossa intimidade, armada e brigada em nossa mente, o tipo de batalha que lutamos todos os dias, cada dia. Arjuna pois se põe a lutar e vence.
O livro se trata de todos esses ensinamentos de Krishna a Arjuna, a luta, rompe os conceitos de tempo e espaço e acontece como que fosse em um reduto espiritual.
Talvez de tantos ensinamentos poderosos contidos no Bhagavad Gita, o pensamento que o melhor diz respeito é : A mente funciona como um inimigo para aqueles que não a controlam. Arjuna é cada um de nós que vivemos e andamos sobre a face da Terra. Somos aqueles que estão sempre a caminhar, abrir caminhos, pavimentando nosso destino em direção ao rumo do que de fato queremos ser e chegar. O Exército dos Pandavas diz respeito aos nossos sonhos, nossa tão grande esperança, nosso amor mais bonito.Enquanto os Kuravas são nossos vícios, nossas fragilidades e defeitos. São importantes dentro de seus limites, pois como as virtudes seriam fortalecidas se acaso não houvesse nossa tão particular fragilidade? Falando assim, fica fácil divergir entre Pandavas e Kuravas, virtudes e fragilidades. Porém, Pandavas e Kuravas eram a mesma família, bem como nossas virtudes e fragilidades formam aquilo que somos e amamos muitas vezes mesmo sem querer amar.
Este guia lhe permitirá uma visão clara dos temas da Bhagavad-gita e de sua progressão natural ao longo desse diálogo sagrado.
Sanjaya é o secretário pessoal do rei cego Dhritarastra, que está muito ansioso por saber como se desenrolará a batalha no campo de Kurukshetra – desejoso de que seu filho perverso, Duryodhana, seja vitorioso sobre seu sobrinho de grandes virtudes, Arjuna. Assim, Dhritarastra pede a Sanjaya que descreva os acontecimentos no campo de batalha valendo-se do poder místico que seu secretário possuía devido a uma bênção de seu mestre espiritual. Sanjaya, deste modo, torna-se narrador do diálogo Bhagavad-gita, entre Krishna e Arjuna, que acontece momentos antes do início da batalha.
Este posicionamento da grande canção é estratégico. Toda a atenção do leitor, após a leitura de muitos capítulos do Mahabharata com intrigas, combates e romances, está indesviável agora no clímax da obra na guerra: o momento perfeito para introduzir o mais importante de toda a narrativa, a Bhagavad-gita. O estado mental induzido em Arjuna também é providencial, pois, desorientado diante de sua obrigação de aplicar sobre seu primo Duryodhana e seus cúmplices Dronacharya, Bhisma e outros parentes e entes queridos a pena apropriada pelo insulto de ordem sexual a uma mulher inocente e outros delitos, Arjuna faz o papel de nós almas confusas em relação a quais são nossos deveres, qual é a nossa posição neste mundo, qual é nossa relação com Deus e outros assuntos de grande importância.
Assim, os versos de 1 a 27 da Bhagavad-gita ainda nos introduzem ao contexto histórico onde ocorrerá o diálogo.
Nos versos de 28 ao final, Arjuna apresenta as razões por que deseja não lutar, as quais são em número de cinco: compaixão por aqueles contra quem tem de lutar; o egoísmo de saber que não desfrutará após a guerra caso vitorioso, uma vez que não terá seus parentes para comemorarem consigo; temor das consequências da destruição da família; medo de incorrer em pecado e ter de sofrer reações adversas em decorrência disso; e a indecisão de não saber com toda a segurança se é melhor vencer ou ser derrotado.
Apresentados seus argumentos, Arjuna deixa de lado suas armas e se senta em sua quadriga tomado de angústia.
Nos versos de 11 a 30, Krishna introduz o conceito de eternidade da alma, distinção do corpo e transmigração da mesma por diferentes corpos.Nos versos de 31 a 38, então, dedica-Se a defender que Arjuna deve lutar porque esse é o dever a ele prescrito e não há pecado em cumprir o dever conforme prescrevem as escrituras, mesmo se esse dever for matar.
Uma vez que Arjuna respaldou seus argumentos nas escrituras e na tradição da sucessão discipular, Krishna comenta, nos versos de 39 a 53, como as escrituras sagradas, embora de fato reveladas, têm seções menos do que conclusivas, assim expondo que seus argumentos não eram baseados na conclusão dos Vedas.
Quando Arjuna pede por mais esclarecimento, Krishna, nos versos de 54 ao final, conclui o capítulo explicando mais elaboradamente as características de autocontrole e outras daquele cuja consciência está absorta na transcendência e encerra dizendo que quem atinge semelhante estado de pureza pode entrar em Sua morada eterna, além do ciclo de nascimentos e mortes.
Argumentos de Arjuna e Respostas
O primeiro argumento de Arjuna, referente à compaixão pelos adversários, apresentado no capítulo anterior, é respondido neste capítulo nos versos de 11 a 30. O segundo argumento que Arjuna apresentou, pertinente ao egoísmo de conquistar um reino sem ter com quem comemorar, é respondido nos versos 31 e 32. O terceiro, que diz respeito ao medo de reações pecaminosas, têm resposta nos versos de 33 a 37. O quarto argumento, por sua vez, referente aos problemas da destruição familiar, é respondido nos versos 45 e 46 (e também no verso 24 do capítulo 3).
Um quinto argumento de Arjuna para sua hesitação em lutar é apresentado neste capítulo 2, no verso 6. Nesse verso, Arjuna diz que a indecisão é outro elemento que o confunde, não sabendo se é melhor vencer ou ser derrotado.
Krishna esclarece nos versos de 3 a 9 que o trabalho deve ser combinado com conhecimento e desapego, e seus frutos, oferecidos para a satisfação do Senhor Supremo, desfazendo a suposta contradição entre trabalho e serviço devocional.
Nos versos de 10 a 16, Krishna descreve o sistema conhecido como karma-kanda, um sistema de respeito às poderosas entidades vivas que possuem cargos administrativos no cosmo e prática de sacrifícios a fim de ser merecedor de prosperidade neste mundo. Esse sistema é considerado inferior a outros sistemas religiosos uma vez que seus frutos são temporários: bom nascimento, saúde, riqueza, gozo dos sentidos. Porém, quem o adota se purifica gradualmente em virtude de quatro questões: (1) A pessoa se vê forçada a praticar certas regulações, o que conduz a desapego; (2) esse processo faz o praticante estudar os Vedas, nos quais figuram ensinamentos mais elevados, com os quais o indivíduo terminará entrando em contato; (3) obtendo os resultados, ainda que materiais, de sua prática a pessoa desenvolve fé nas escrituras como de fato reveladas; e (4) o processo faz com que o indivíduo se associe com sacerdotes, os quais podem ter valores superiores aos seus e transmiti-los. Por tais motivos, Krishna também apresenta esse conhecimento.
Nos versos de 17 a 35, Krishna fala sobre a importância de alguém cumprir seu dever sem apego a fim de que sirva de exemplo para as outras pessoas, sobretudo alguém formador de opinião e influente, como o caso de Arjuna, um político/combatente muito famoso já em seu tempo.Nos versos de 36 ao final, Krishna versa sobre por que as pessoas não cumprem seus deveres, inclusive pessoas que conhecem perfeitamente os deveres e possuem o desejo de segui-los. O motivo disso é a luxúria, a ira e outro vícios, os quais, Krishna sugere, devem ser controlados através da conscientização de que somos superiores aos sentidos, à mente e à inteligência e recorrendo à inteligência espiritual.
Nos versos de 11 a 15, Arjuna ouve sobre como Krishna reciproca a forma de rendição de cada pessoa e sobre como a perfeição é agir como aqueles que compreenderam a natureza de Krishna como a personalidade que não tem nenhum envolvimento com as ações e reações do mundo material.
Então, nos versos de 16 a 24, Krishna discute como a verdadeira liberdade de pecado está em agir livre da expectativa de gozo dos sentidos e em conhecimento, e não na inação negligente.
Nos versos de 25 ao final, Krishna apresenta diferentes tipos de sacrifícios e conclui dizendo que o melhor sacrifício é aquele executado com conhecimento. Em conclusão, agir segundo o conhecimento transcendental, como dito no último verso do capítulo 3, é a melhor forma de alguém se ver livre de todas as reações pecaminosas resultantes do agir.
A dúvida de Arjuna nasce da ideia de que renúncia e trabalho são incompatíveis, mas Krishna diz que o trabalho feito com conhecimento e devoção é renúncia. O conhecimento espiritual sem aplicação prática não é suficiente para alguém obter a libertação das garras do ciclo de nascimentos e mortes, senão que a pessoa, uma vez ciente de sua posição como alma espiritual serva eterna de Deus, deve passar a atuar nessa capacidade. As perguntas de Arjuna e essa explicação acontecem nos versos 1 a 6.
Depois de enfatizar que o trabalho em desapego é mais fácil e superior à inatividade, discorre, nos versos de 7 a 12, sobre como semelhante trabalhador não se identifica com seu corpo ou com as atividades realizadas pelo mesmo.
Nos versos de 13 a 16, Krishna fala sobre o conhecimento dos três executores: a entidade viva; os três modos da natureza material, mencionados pela primeira vez no verso 45 do capítulo 2; e a Superalma, ou Alma Suprema.
Que o indivíduo que fixa sua consciência em tal Superalma através da devoção e também do conhecimento e que age de forma apropriada alcança a libertação brevemente é o assunto abordado nos versos de 17 a 26, libertação esta também obtenível pelo processo do yoga mecânico, segundo os versos 27 e 28.
No verso final do capítulo, Krishna reúne em torno de Si todo o ensinamento que apresentou até então. Ao dizer que se deve entendê-lO como o desfrutador de todo sacrifício e como o Senhor de todos os semideuses, Krishna coloca a importância de que os sacrifícios sejam ofertados a Ele, e não a deuses menores, como Brahma ou Indra. Dizendo que é o desfrutador das austeridades, liga a Si também o conhecimento, o qual é cultivado por pessoas austeras, ou desinteressados do gozo sensorial. E, finalmente, ao declarar-Se o melhor amigo de todas as entidades vivas, revela que a Superalma presente no coração de todos é Ele. A Superalma é comparada ao melhor amigo uma vez que acompanha a alma por todos os corpos dando-lhe intuição espiritual. Quem compreende Krishna dessa maneira, conclui o capítulo, obtém paz, ou, em outras palavras, a libertação.
Depois de enfatizar nos versos de 1 a 4 a importância de ser um verdadeiro renunciante através da renúncia aos frutos da ação, e não através da renúncia da ação em si, Krishna fala, nos versos de 5 a 9, da relevância do afastamento do gozo dos sentidos e descreve o estado mental de quem conseguiu a perfeição nessa prática.Nos versos de 10 a 32, uma descrição bastante longa, Arjuna ouve sobre os elementos da prática do yoga mecânico e também seu progresso até a culminação de o yogi ser capaz de ver a Superalma, e, nos versos de 33 a 36, ouve sobre a importância do controle mental.
Arjuna, então, nos versos de 37 a 39, pergunta a Krishna o que acontece se alguém dá início às práticas ióguicas porém falece antes de atingir a perfeição. Krishna responde nos versos de 40 a 45 que se o yogi morre após pouco avanço, ou seja, morre ainda com muitos desejos materiais, ele nasce nos planetas superiores deste universo, onde há muito gozo sensorial e igualmente vasto conforto, e, após essa estadia celeste, renasce na Terra em uma família rica e aristocrática. Caso o avanço do yogi tenha sido maior, renasce diretamente em uma família de grandes yogis, como Nimi. O yogi, então, deve continuar se esforçando, por quantas vidas forem necessárias, até que atinja finalmente a perfeição.
Nos 2 versos finais, Krishna conclui o capítulo dizendo que o yogi é mais elevado do que todos os outros tipos de religiosos, e adiciona que, entre os tipos de yogis, o mais elevado é aquele que tem fé em Sua pessoa, O tem por refúgio, pensa nEle dentro de si mesmo e Lhe presta serviço transcendental amoroso.
Nos versos de 13 a 19, então, Krishna explica que, uma vez que Ele é o controlador dos três modos da natureza material, quem se rende a Ele pode transcender esta existência. Porém, não são todos que se rendem a Ele, senão que existem quatro classes de pessoas que se rendem e quatro classes de pessoas que não o fazem.
Nos versos de 20 a 25, Krishna diz quais são as crenças daqueles que não se rendem a Ele: Ou adoram diferentes deuses conforme seus desejos materiais ou são impersonalistas, isto é, não acreditam que a personalidade de Krishna seja eterna e que Ele tenha um reino eterno onde almas puras preservam sua individualidade e O servem em bem-aventurança além de toda influência material do fator tempo. Krishna tece Seu parecer acerca de tais pessoas e revela que as tem em baixa estima.
Como alguém pode ficar livre de tais concepções que são do desagrado de Krishna? Através do serviço devocional, explica Krishna nos versos de 26 ao final, categoria de serviço esta que eleva a alma acima das dualidades e permite-lhe conhecer Krishna na hora da morte.
Arjuna também deseja saber mais sobre uma sétima expressão, a saber, “a hora da morte”, a qual Krishna mencionou no último verso do capítulo anterior. É a esse tema que Krishna dedica a maior parte do capítulo 8, explicando que quem dedica sua vida a pensar nEle a todo momento, vendo-O em tudo, sem desvios, pode transcender os três modos da natureza material e alcançar Sua morada eterna. Essa descrição acontece nos versos de 5 a 16.
Nos versos de 17 a 22, Krishna contrasta o mundo material e o mundo espiritual, falando como o primeiro é ciclicamente criado e destruído, e como o segundo é alheio a essa realidade ora manifesta, ora imanifesta, sendo transcendente e sendo Sua morada pessoal, habitada somente por almas inteiramente puras.
Por fim, nos versos de 23 ao final, Krishna despe o serviço devocional puro das práticas mecânicas descritas principalmente no capítulo 6, dizendo que, enquanto os yogis devem deixar este mundo recorrendo ao domínio dos ares e de outros elementos do corpo a fim de que possam morrer em momentos calculadamente auspiciosos, o devoto simplesmente permanece fixo em devoção e depende de Krishna para que este faça todos os arranjos para o seu destino pós-morte ser inteiramente exitoso.
Nos versos de 1 a 3, Krishna discute a qualificação daqueles que podem receber esse conhecimento tão confidencial e tão puro, e a desqualificação daqueles que não o podem e, por consequência, têm de prosseguir nascendo e morrendo no mundo material.
Nos versos de 4 a 10, Krishna fala de todo o conhecimento dos poderes de Deus que é requerido aos devotos em devoção servil.
Como este capítulo tem por objetivo permitir que o ouvinte se torne um devoto puro, Krishna discorre com mais detalhes do que fez nos versos de 20 a 25 do capítulo 7 acerca das impurezas do impersonalismo e da adoração aos semideuses, os controladores setoriais deste mundo. Isso Ele faz nos versos de 11 a 25, rebaixando aqueles que se consideram unos com o Supremo, aqueles que O adoram na forma universal e os adoradores politeístas.
Krishna, então, nos versos de 26 ao final, canta as glórias do serviço devocional puro a Ele, descrevendo como o serviço devocional é simples, libertador e querido a Ele. Diz ainda que o devoto é tão querido a Ele que, mesmo se cometa alguns erros acidentais durante suas práticas, Ele os releva. Após dizer que não há importância o nascimento da pessoa ou suas qualificações materiais, sugere a rendição completa a Ele, a absorção completa da mente nEle, em consequência do que, garante, a alma devotada certamente retornará a Ele.
Nos versos de 1 a 7, Krishna diz que quem se convence de Sua opulência e de Seu poder místico de ter uma origem insondável, uma vez que é a origem de tudo e todos, passa a adorá-lO.
Nos versos de 8 a 11, consta de forma muito sucinta toda a essência da Bhagavad-gita. No primeiro de tais quatro versos, Krishna fala sobre Seu imenso poder. No segundo, descreve quão dedicados a Ele são Seus devotos, uma consequência natural já indicada no verso anterior. No terceiro verso, Krishna diz como reciproca com tais devotos. E, por fim, no quarto verso, Krishna diz como Ele pessoalmente desperta a verdadeira inteligência do devoto, destruindo por definitivo a escuridão há tanto presente no coração dele.
Nos versos de 12 a 18, Arjuna dá o seu depoimento e diz que aceita Krishna como Ele Se descreve, e diz, a fim de que não pareça mero sentimentalismo, que o entendimento que ele desenvolveu acerca da posição de Krishna é confirmado por grandes sábios, inclusive Vyasadeva. Pede, então, humildemente, que Krishna fale mais acerca de Suas glórias, o que Krishna atende, enumerando, nos versos de 19 a 42, oitenta e dois exemplos de Suas opulências ilimitadas.
É importante atentar que, ao final dessa longa enumeração, Krishna diz que tudo o que Ele descreveu é mero fragmento de Seu esplendor infinito. A meditação proposta por Krishna, por conseguinte, não é uma meditação panteísta, haja vista que Krishna já criticou essa forma de meditação nos versos de 15 a 19 do capítulo 9. A meditação correta é esta: Se tão imensas são as belezas deste universo – como o Sol entre os luzeiros, o mar entre os corpos d’água, o Himalaia entre os objetos imóveis, Shiva entre os Rudras, Vishnu entre os Adityas – quão mais belo há de ser Krishna, a Divindade Suprema, se tudo isso é apenas uma centelha de Seu esplendor?
Nos versos de 1 a 7, Krishna ouve a solicitação de Arjuna, junto com mais um depoimento dele sobre seu entendimento pessoal, após o que fala brevemente acerca de Sua forma universal. Então, no verso 8, concede a Arjuna olhos divinos para que possa ver essa forma esplêndida.
Nos versos de 9 a 34, Sanjaya descreve a visão de Arjuna, que vê, nos versos de 14 a 19, tudo o que existe reunido em um só lugar; e, nos versos de 20 a 34, vê a forma do tempo eterno, a quem se dirige e é informado que todos ali no campo de batalha já estão mortos, e que ele é só um instrumento, motivo pelo qual não deve hesitar em lutar.Nos versos de 35 a 46, Arjuna, trêmulo devido ao temor, ora a Krishna pedindo-Lhe desculpas por quaisquer ofensas que acaso tenha cometido e, por fim, solicita-Lhe que revele novamente Sua forma original.
Nos versos de 47 ao final, lemos como Krishna atende ao pedido de Arjuna e recolhe Sua forma universal, mostrando primeiramente Sua forma de quatro braços e, por fim, Sua forma primordial de dois braços. Conclui dizendo que Sua forma de dois braços como Krishna, a mais querida forma, somente pode ser vista pelos devotos puros.
Nos versos de 1 a 7, Krishna explica como o caminho do serviço devocional é tanto superior como mais fácil, apesar de que não nega que os impersonalistas fatalmente também O alcançam.
Nos versos de 8 a 12, Krishna fornece métodos pelos quais alguém pode se tornar um devoto puro, oferecendo métodos de diferentes níveis para que pessoas em diferentes plataformas possam todas, gradualmente, chegar à posição de devoto puro.
Conclui, então, este pequeno capítulo descrevendo, nos versos de 13 a 20, as qualidades daquele que alcançou essa posição, assim como descreveu os atributos daquele acima da influência dos três modos da natureza nos versos de 22 a 25 do capítulo 14.
Como no capítulo 8, Arjuna começa este capítulo, nos versos 1 e 2, pedindo a Krishna a definição de diferentes termos, desta vez em número de seis: a natureza, o desfrutador, o campo de atividades, o conhecedor do campo, o conhecimento e a meta do conhecimento.
Krishna, nos versos de 3 a 7, responde o que é o campo de atividades, o conhecedor do campo e o conhecimento. Nos versos de 8 a 12, desdobra o conhecimento e também fala sobre a libertação do ciclo de nascimentos e mortes. O que é a meta do conhecimento, a última pergunta de Arjuna, recebe resposta nos versos de 13 a 19, ao passo que a definição da natureza e do desfrutador aparece nos versos de 20 a 26.
Nos versos de 27 ao final, Krishna fala sobre a visão do conhecimento e sobre, nas palavras com que Ele mesmo resume no último verso, como é possível a alguém ciente da diferença entre o corpo e o ser, percepção esta adquirida pelo conhecimento, libertar-se do enredamento da energia material.
Este capítulo é comumente considerado pelos estudantes da Bhagavad-gita como um dos mais difíceis. Na obra Chaitanya-bhagavata, descreve-se que mesmo o líder dos devotos de Krishna nos séculos XV e XVI, Advaita Acharya, não conseguia entender um dos versos deste capítulo. Somente o pôde entender, narra-nos o Chaitanya-bhagavata, depois de jejuar e esperar que o próprio Krishna lhe esclarecesse o significado do verso. Devemos entender, portanto, que é necessário dedicarmos especial atenção à leitura deste capítulo a fim de que possamos assimilar com sucesso o seu conteúdo.
Nos versos de 1 a 4, Krishna glorifica o conhecimento que começará a transmitir e diz como é através dEle que a energia material é povoada. Nos versos de 5 a 9, Krishna explica que o condicionamento das almas se dá pelos três modos, que as prendem como cordas, e apresenta as definições básicas da tríade.
Nos versos de 10 a 13, explica, então, que as almas são ora encobertas pelo modo da ignorância, ora pelo modo da paixão, ora pelo modo bondade, e ensina como podemos reconhecer, por diferentes sinais e sintomas, qual é o modo que atua sobre nós ou sobre outras pessoas em determinados momentos.
A preocupação de Arjuna já exposta por ele desde o capítulo 1, em relação às reações que nos atam a este mundo, é exposta nos versos de 14 a 18, que mostram as consequências das ações em cada um dos três modos.
Finalmente, nos versos de 19 ao final, Krishna diz como a pessoa pode situar-se e agir fora da jurisdição dos três modos e consequentemente não ter de renascer nem nos planetas inferiores, nem nos planetas intermediários e nem nos planetas celestes. Supera essa influência tríplice aquele que se ocupa em serviço devocional pleno, como já discutido pormenorizadamente nos capítulos de 7 a 12. Assim, a pessoa alcança a plataforma Brahman, cuja origem é Krishna.
Este último verso, em que Krishna diz ser a origem do Brahman, é significativo. Há leitores da Bhagavad-gita que sugerem que Krishna é o símbolo de algo, comumente o símbolo do Brahman, da inteligência ou da totalidade do cosmo. Porém, tais leituras não são possíveis se considerarmos que, no último verso deste capítulo, Krishna diz ser a base do Brahman. No capítulo 7, verso 4, Krishna afirma que a inteligência é uma energia Sua. No capítulo 11, também vimos como Arjuna pede a Krishna que recolha Sua forma universal e mostre Sua forma original, a forma de dois braços. Deste modo, Krishna, em Seu aspecto pessoal, deve ser entendido como a fonte de tudo, como Ele mesmo declara no verso 8 do capítulo 10, e não como o símbolo de algo inferior.
Nos versos de 1 a 5, Krishna expõe a teologia de que o mundo material é um reflexo pervertido do mundo espiritual e afirma ser preciso desapegar-se do reflexo a fim de poder reingressar no mundo espiritual. Esse entendimento do reflexo também combate a ideia de que Krishna é um conceito antropomórfico – ao contrário de Krishna ter uma forma humana pelos homens projetarem seus atributos em Deus, Deus sim projetou em nós Sua forma, Suas qualidades etc. em caráter diminuto.
Nos versos de 6 a 11, Krishna fala sobre como é apropriado o desejo de retornar ao mundo espiritual e sobre como as entidades vivas vagueiam pelo mundo material por diferentes corpos até que o façam. Essa transmigração é algo claramente entendido pelos transcendentalistas, mas ignorado pelos homens comuns.
Krishna, nos versos de 12 a 15, diz como torna possível que os corpos das almas condicionadas sejam mantidos por Ele através da manutenção do cosmo e dos corpos; como mantém o processo transmigratório dessas mesmas almas dando-lhes a lembrança, o esquecimento e o conhecimento entre as diferentes vidas; e como, através do fornecimento do Vedanta, a conclusão das escrituras, propicia-lhes os meios necessários para que se libertem do ciclo de nascimentos e mortes.
Então, nos versos de 16 a 18, estabelece que as almas existem em duas categorias: as almas condicionadas, que vivem neste mundo material, e as almas libertas, que vivem no mundo espiritual. Krishna Se coloca em uma categoria acima até mesmo das almas libertas, contradizendo a teoria monista, ou impersonalista, que diz que, na transcendência, Krishna e a alma são unos.
Nos 2 versos finais, Krishna enaltece o conhecimento que acaba de transmitir e diz que aquele que recebe semelhante conhecimento quererá adorá-lO, como uma consequência natural.
Nos versos de 1 a 6, Krishna lista ambas as classes de qualidades, as divinas e demoníacas, respectivamente em número de vinte e oito e em número de seis. As qualidades divinas, Krishna diz, conduzem à liberação, ao passo que as qualidades inversas perpetuam o cativeiro da alma no mundo material.
Embora Krishna já houvesse falado no verso 4 deste capítulo que Arjuna nascera com as qualidades divinas, Krishna decide descrever as qualidades demoníacas detalhadamente a fim de garantir a Arjuna que ele não se enquadra nessas qualidades baixas, como poderia pensar erroneamente. Essa vivaz descrição dos atos, palavras e pensamentos daqueles sob o domínio da natureza demoníaca é registrada nos versos de 7 a 20.
Uma vez que as qualidades demoníacas fadam a alma a muitos sofrimentos infernais, toda pessoa sã ciente desse fato desejará se afastar de tais qualidades, as quais Krishna diz serem como portões para o inferno. Nos versos de 21 ao final, portanto, Krishna incentiva todos aqueles que querem ser felizes que realizem atos que conduzem à perfeição e ao destino supremo conforme prescrevem as escrituras sagradas.
Nos versos de 2 a 6, Krishna responde que aquele cuja fé não é escritural poderá ter três tipos de fé, conforme o modo da natureza material que o governe. Então, nos versos de 7 a 22, Krishna aponta as qualidades dos três modos também nos hábitos alimentares, nos sacrifícios, nas austeridades e nos atos caritativos. Essas exemplificações dos modos materiais nas atividades e escolhas das entidades vivas muito nos ajudam a visualizar as descrições mais abstratas dos três modos fornecidas no capítulo 14.
Nos versos de 23 a 28, então, Krishna conclui apresentando a Arjuna a definição da tradicional expressão Om Tat Sat e diz que sacrifícios, caridade e penitência realizados sem fé no Supremo, sem um objetivo superior, são inúteis, o que é um convite a que adotemos diretamente a consciência de Krishna, em vez de optarmos por algum roteiro de purificação gradual.
Nos versos de 1 a 12, Krishna defende que um verdadeiro renunciante não renuncia seu trabalho, mas sim os frutos do mesmo. Conclui Krishna, então, que a posição renunciada e a ordem renunciada são unas.
Citando o Vedanta-sutra, a famosa obra de Vyasadeva, cujo comentário mais importante é o do próprio Vyasadeva, o comentário de nome Srimad-Bhagavatam, Krishna esquadrinha as ações como consequentes a cinco fatores, entre os quais o mais importante é a Superalma presente no coração de todos. Tal estudo, que figura nos versos de 13 a 18, tem por objetivo nos ensinar como podemos agir sem nos enredarmos.
Em seguida, tornando este capítulo o mais dedicado a exemplificações dos três modos da natureza, Krishna, nos versos de 19 a 40, Se dedica a apontar como as atividades nos mencionados cinco fatores são ditadas pelos três modos da natureza material.
Nos versos de 41 a 66, Krishna descreve como todos podem servi-lO com suas aptidões e reitera como o serviço a Ele é a ocupação livre de reações.
Os versos 65 e 66 são os últimos versos da Bhagavad-gita. No primeiro, Krishna apresenta conclusivamente, entre todos os processos de religião, Sua predileção pelo serviço devocional puro, e pede a Arjuna que se situe em tal processo. No verso seguinte, a fim de que não fique nenhuma dúvida de que apenas o serviço devocional deve ser adotado, diz que toda outra forma de religião deve ser abandonada, a saber, o trabalho fruitivo, a especulação filosófica e as práticas mecânicas do yoga. Krishna garante a Arjuna que, caso se renda da forma solicitada, o livrará de todas as reações pecaminosas.
Interessante notar que, no verso 65, Krishna diz a Arjuna que ele deve se render como um devoto, após o que diz a Arjuna que deve abandonar todas as outras formas de religiosidade. Depois de sugerir esse abandono, Krishna reitera o processo do serviço devocional ao dizer: “Renda-se unicamente a Mim.” Algumas vezes, lemos e ouvimos pessoas dizerem que o serviço devocional é um meio que deve ser abandonado em determinado momento da vida em busca da autorrealização a fim de que se adotem as práticas de austeridade, estudo escritural especulativo ou meditações monistas. Essa leitura, contudo, é impossível na Bhagavad-gita, que é uma obra essencialmente devocional. Sua conclusão nestes dois últimos versos é clara.
Nos versos de 67 a 71, Krishna fala sobre a divulgação da Bhagavad-gita: quem é qualificado para receber esse conhecimento, como Lhe é querido o pregador e quais são os benefícios para quem estuda e ouve Seu diálogo com Arjuna.
No verso 72, Krishna pergunta a Arjuna se ele foi capaz de entender completamente o significado de Sua canção, disposto a ensinar toda a Bhagavad-gita novamente a Arjuna caso necessário. O verso 73 registra a última fala de Arjuna, que diz estar livre da ilusão, com a memória recobrada e pronto para agir conforme a vontade de Krishna.
Nos versos de 74 a 77, Sanjaya revela sua gratidão a seu mestre espiritual, Vyasadeva, que lhe permitiu ouvir a Bhagavad-gita. Sanjaya também deixa transparecer em tais versos bastante de sua devoção a Krishna.
No último verso, enfim, Sanjaya responde à pergunta implícita no primeiro verso de toda a Bhagavad-gita. O rei cego, Dhritarastra, desejava saber se seu filho, Duryodhana, seria capaz de vencer o exército rival, onde estavam Krishna e Arjuna. Sanjaya responde francamente: “Onde estejam Krishna e Arjuna, ali estará a vitória.”
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